Hematologia: a ciência do sangue
19 jul 2023
A ciência que estuda o sangue e seus constituintes é chamada de Hematologia. A produção das células sanguíneas ocorre na medula óssea dos ossos chatos, vértebras, costelas, quadril, crânio e esterno. Nas crianças, os ossos longos, como o fêmur, também produzem sangue.
Entre suas funções, as células sanguíneas realizam:
- Transporte de oxigênio, nutrientes e produtos metabólitos
- Hemostasia
- Defesa do organismo
- Controle da temperatura corpórea
O sangue é composto por uma parcela líquida, plasma, e por componentes celulares divididos em três grupos básicos: os eritrócitos (hemácias), os leucócitos (células brancas) e trombócitos (plaquetas).
Componentes celulares do sangue
Eritrócitos
Os eritrócitos, mais conhecidos como hemácias, são células anucleadas e com alta capacidade elástica, que possuem disco bicôncavo e uma vida média de 120 dias. Os parâmetros eritrocitários, que avaliam a série vermelha do sangue, além de auxiliar na contagem total dessas células, fornece informações sobre a concentração de hemoglobina, hematócrito, volume corpuscular médio e amplitude da distribuição da série vermelha.
O exame hemograma realiza a avaliação da série vermelha, que pode ajudar na identificação e no controle de anemias e hemorragias.
A anemia ocorre quando as dosagens de hemoglobina estão abaixo do valor padrão estimado conforme a idade e o sexo. Essa enfermidade possui três subdivisões: normocítica/normocrômica, microcítica/hipocrômica e microcítica/normocrômica. A classificação se dá pela avaliação dos valores encontrados no VCM (Volume Corpuscular Médio) e do HCM (Hemoglobina Corpuscular Média).
Leucócitos
Os leucócitos são responsáveis principalmente pelo combate às infecções. São subdivididos de acordo com a presença ou falta de grânulos em seu citoplasma, desse modo, classificam-se em granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos) ou agranulócitos (monócitos e linfócitos).
Granulócitos
Neutrófilos
Os neutrófilos são responsáveis por prevenir e combater infecções, realizando a fagocitose de elementos estranhos, em geral, de fungos e bactérias. O núcleo característico dos neutrófilos apresenta cromatina em grupos, divididos em dois até cinco lóbulos distintos unidos por estreitos filamentos.
A alteração na contagem de neutrófilos pode estar relacionada, entre outros, a infecções e neoplasias.
Basófilos
Os basófilos apresentam núcleo grande e, em seu citoplasma, há muitos grânulos de diâmetro maior do que os observados nos neutrófilos e o eosinófilos. Na membrana plasmática é possível localizar receptores para a imunoglobulina E (IgE), proteína associada a reações alérgicas e infecções por parasitas.
Em situações decorrentes de um processo inflamatório, ou até mesmo de uma alergia, é possível observar alteração na concentração de basófilos.
Eosinófilo
Esse tipo de leucócito está envolvido comumente em reações alérgicas. Apresenta diâmetro um pouco maior que um neutrófilo e geralmente apresenta núcleo bilobulado (com menor frequência, trilobulado).
Os níveis de eosinófilo são alterados em alergias e mudanças no sistema endócrino, por exemplo.
Agranulócitos
Monócitos
Já os monócitos são células grandes e apresentam um núcleo assimétrico com citoplasma com grânulos finos. Eles se diferenciam, geralmente, em macrófagos, e estão associados a várias infecções e inflamações de fungos e vírus, comumente.
Alterações na contagem de monócitos podem estar relacionadas, entre outros, a doenças infecciosas, doenças inflamatórias crônicas, uso de corticoide e radioterapia.
Linfócitos
São células responsáveis pela identificação de substâncias estranhas e combate a partir da resposta humoral e citotóxica. Apresentam citoplasma escasso e núcleo arredondado com cromatina condensada. Em infecções virais e outros estímulos imunológicos, o número de linfócitos tende a aumentar para auxiliar no combate a invasores no organismo.
Atuam, principalmente, na:
- Imunidade celular
- Rejeição de tecidos estranhos
- Destruição de células tumorais
- Imunidade humoral
Podem se diferenciar em plasmócitos (responsáveis pela produção de anticorpos).
Trombócitos
Os trombócitos ou plaquetas são fragmentos granulares de células gigantes originadas na medula óssea, os megacariócitos. A principal função dessas células é a hemostasia, processo pelo qual o sangue permanece líquido apesar das lesões que os vasos sanguíneos venham a sofrer.
As plaquetas têm um formato de um disco redondo enquanto circulam pela corrente sanguínea, contudo, podem sofrer mudança de formato quando em contato com o colágeno exposto na parede de um vaso sanguíneo lesado. Esse colágeno inicia o processo de adesão plaquetária em conjunto com outras proteínas.
Quando são aderidas aos vasos, as plaquetas se ativam e perdem seu formato original, se tornando esféricas com projeções espiculares e iniciam o processo de agregação plaquetária, unindo umas às outras. Devido ao grande número de plaquetas presentes na circulação sanguínea, forma-se um tampão para estancar o sangramento.
Esse tampão formado consegue conter pequenas lesões, porém, em danos maiores, ele pode ser arrastado pela corrente sanguínea. Por isso, é necessária a formação do coágulo para finalizar a hemostasia, com a ativação dos Fatores de Coagulação. Já tratamos no Guia de coagulação – Hemostasia sobre as vias e os princípios da coagulação.
Hemograma e técnicas de contagens
O hemograma é definido como o conjunto de análises laboratoriais que, de forma quantitativa e qualitativa, determina os componentes celulares dos três grupos básicos do sangue: os eritrócitos (hemácias), os leucócitos (células brancas) e trombócitos (plaquetas).
A determinação desses componentes pode ser realizada por técnicas manuais e automatizadas.
TÉCNICA MANUAL
A técnica manual é utilizada, usualmente, para avaliações restritas devido à sua morosidade e baixa reprodutibilidade. É indicada para investigações de amostras com anomalias que necessitam de confirmação e para pequenas rotinas.
Figura 1 – Técnica de esfregaço manual (adaptado¹)
TÉCNICA AUTOMATIZADA
A melhoria na qualidade do hemograma, a dosagem de hemoglobina com menor interferência, a realização de diluições automáticas com boa reprodutibilidade, além de mais agilidade nos resultados e possibilidade de aumento na demanda, são algumas das características que conferem à automação uma superioridade frente à técnica manual.
Salientamos que, para confirmação de resultados, é recomendada a leitura de lâminas microscopicamente por um profissional apto para interpretar, em casos específicos, os diferentes tipos de células.
Classificação de analisadores em números de partes
A categorização de analisadores hematológicos em número de partes é feita de acordo com as classes de leucócitos disponibilizados pelo equipamento, sendo geralmente de 3, 4, 5 e 6 partes.
Os analisadores automatizados utilizam, em sua grande maioria, o Princípio de Coulter (Impedância). Contudo, para diferenciação dos 5 tipos de leucócitos, é necessária a utilização de tecnologia de fontes de laser para avaliar a dimensão e a complexidade celular.
O analisador hematológico contador diferencial de 3 partes possui a capacidade de diferenciação dos leucócitos (WBC) em 3 partes. Esse processo ocorre em valor absoluto e percentual dos linfócitos, células médias (monócitos, eosinófilos e basófilos) e granulócitos.
Na diferenciação de 4 partes, o analisador permite a visualização de 4 tipos leucocitários a partir da utilização de lisante específico. Para fornecimento do diferencial para WBC em 5 partes, os analisadores podem utilizar a tecnologia de medição óptica de dispersão e difração de luz. O sistema consiste basicamente em um laser que ilumina um fluxo de leucócitos em suspensão em uma solução de diluição dentro de uma cubeta de fluxo.
Já os analisadores que possuem a diferenciação de 6 partes, além dos 5 tipos leucocitários (neutrófilos, basófilos, eosinófilos, monócitos e linfócitos), reportam células imaturas, que colaboram na avaliação da produção celular. Observância de resultados aumentados de células jovens em um indivíduo podem sinalizar um “trabalho” acima do normal na produção sanguínea pela medula óssea.
Princípios básicos das dosagens automatizadas
Para mensuração dos parâmetros hematológicos, os analisadores automáticos utilizam princípios básicos de análises. Os métodos comumente utilizados são os seguintes:
Princípio Coulter, Impedância ou Resistência Eletrônica
O método de leitura descrito por Coulter determina a concentração celular e a distribuição de volumes das células por meio da detecção e medição das mudanças na impedância elétrica quando partículas são conduzidas por uma pequena abertura.
Figura 2 – Princípio Impedância
Medição Fotométrica
Por meio da recepção de luz no comprimento de onda selecionado, considerando a absorbância da solução, determina-se a concentração do analito.
Acesse o artigo da Coleção Labtest – Fotometria e Padronização para saber mais detalhes sobre a técnica de fotometria.
Citometria de Fluxo por Laser
Na citometria, o sangue da amostra é aspirado, diluído e em seguida é injetado na célula de fluxo. Quando os glóbulos do sangue suspensos no diluente passam através da célula de fluxo, eles são expostos a um raio-laser, e a intensidade da difusão da luz reflete o tamanho dos glóbulos e a densidade intracelular.
Figura 3 – Princípio Citometria de Fluxo
Fluorescência
Essa técnica é baseada na fluorescência emitida pelas células com uso de fluorocromos.
FORMAS GRÁFICAS DE VISUALIZAÇÃO DE RESULTADOS
Análise de histogramas
l, O histograma é a representação gráfica da distribuição das células em tamanho versus x o número de células de uma determinada amostra de sangue analisada.
Figura 4 – Histograma WBC
Gráfico de dispersão
As informações geradas pela luz dispersada, na cubeta de fluxo, são plotadas em um diagrama de distribuição que contém duas dimensões. Células similares possuem a mesma característica de dispersão e participam, assim, do mesmo grupo, permitindo que sejam feitas a diferenciação e a identificação das populações.
Figura 5 – Gráfico de dispersão DIFF
Salientamos que existem outros princípios de leitura que podem ser utilizados para mensuração de parâmetros hematológicos.
Referências:
- Guia técnico Labtest – Coagulação.
https://labtest.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Guia_Tecnico_Coagulacao.pdf
- Hemominas – Saiba mais sobre o sangue
http://www.hemominas.mg.gov.br/doacao-e-atendimento-ambulatorial/hemoterapia/o-sangue#:~:text=Onde%20nasce%3A%20o%20sangue%20%C3%A9,participam%20do%20processo%20de%20coagula%C3%A7%C3%A3o.
- OLIVEIRA, Raimundo Antônio Gomes. Hemograma – Como fazer e interpretar. 2007.
- Conheça as vantagens do Sistema de Automação Laboratorial.
https://labtest.com.br/blog/conheca-as-vantagens-do-sistema-de-automacao-laboratorial/
- Coleção Labtest – Fotometria e Padronização
https://labtest.com.br/wp-content/uploads/2016/09/FOTOMETRIA_E_PADRONIZACAO.pdf
- Labtest: Dados de arquivo.