O vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), continua sendo uma preocupação significativa para a saúde pública no Brasil e no mundo. 

Desde sua descoberta, na década de 1980, importantes avanços foram feitos no diagnóstico, tratamento e prevenção do HIV. Contudo, os desafios persistem, especialmente no que diz respeito à conscientização, ao combate ao estigma e à ampliação do acesso a métodos de prevenção e tratamento.


O que é o HIV?

O HIV pertence à família Retroviridae, subfamília Lentivirus, e é classificado como um retrovírus tipo D

Ele é dividido em dois tipos principais: HIV-1 e HIV-2. Ambos compartilham semelhanças no arranjo genético, no modo de transmissão e nas consequências clínicas, mas apresentam diferenças importantes. 

Enquanto o HIV-1 é mais prevalente globalmente, o HIV-2 possui menor transmissibilidade e menor probabilidade de progressão para a AIDS.

A infecção pelo HIV ocorre quando o vírus ataca o sistema imunológico, especialmente as células CD4+ dos linfócitos T, comprometendo a capacidade do corpo de combater infecções. Essa fragilidade imunológica torna o indivíduo mais suscetível a uma série de infecções oportunistas, muitas vezes fatais sem o tratamento adequado.


Como o HIV é transmitido?

O HIV pode ser transmitido de três formas principais:

  1. Contato sexual sem proteção: principal via de transmissão, incluindo relações heterossexuais e homossexuais.
  2. Exposição a sangue contaminado: por meio de transfusões de sangue, uso compartilhado de seringas ou materiais perfurocortantes.
  3. Transmissão vertical: durante a gravidez, parto ou aleitamento materno, da mãe para o bebê.

Embora o diagnóstico e o tratamento eficazes possam interromper a transmissão, ainda existem lacunas no acesso a essas soluções.

Dados epidemiológicos no Brasil

De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS (2023), o Brasil registra uma alta prevalência do vírus, com destaque para o aumento de casos entre jovens. 

Entre 2012 e 2022, 52.415 jovens de 15 a 24 anos evoluíram de HIV para AIDS. Um dado que preocupa, pois reflete a necessidade de reforçar estratégias de prevenção e diagnóstico precoce nessa faixa etária.

Em relação ao cenário geral, o Brasil notificou aproximadamente 930 mil pessoas vivendo com HIV até o final de 2022. Apesar dos avanços no acesso à terapia antirretroviral (TARV), que é gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda há desafios significativos:

  • Ampliação da testagem regular para diagnóstico precoce.
  • Combate ao estigma que impede muitas pessoas de buscarem tratamento.
  • Educação sexual nas escolas e campanhas direcionadas para populações mais vulneráveis.


Avanços no tratamento e diagnóstico

Um dos maiores avanços no combate ao HIV foi a introdução da terapia antirretroviral (TARV). Quando iniciada precocemente, essa terapia pode suprimir a carga viral a níveis indetectáveis, evitando a progressão para a AIDS e tornando a transmissão sexual praticamente impossível.

No campo do diagnóstico, testes rápidos e tecnologias avançadas, como a quimioluminescência (CLIA), têm sido fundamentais. Esses métodos oferecem alta sensibilidade e especificidade, permitindo a identificação precoce do vírus e o início imediato do tratamento.

Entre as soluções destacadas para o diagnóstico estão:

  • Testes rápidos de anticorpos HIV-1/2: Oferecem resultados confiáveis em minutos, fundamentais principalmente para triagem.
  • HIV Ag/Ab Combo Reagent Kit: Podem ser eficientes na detecção tanto do antígeno p24 quanto de anticorpos.

 

Embora os avanços no tratamento sejam significativos, a prevenção continua sendo a estratégia mais eficaz para combater a disseminação do HIV. 

No Brasil, as principais iniciativas incluem:

  • Distribuição gratuita de preservativos: disponíveis em unidades de saúde e campanhas de conscientização.
  • Profilaxia Pré-Exposição (PrEP): um medicamento tomado regularmente por pessoas em maior risco de contrair o HIV.
  • Profilaxia Pós-Exposição (PEP): um tratamento emergencial que pode ser iniciado até 72 horas após a exposição ao vírus.

Além disso, o combate à transmissão vertical tem sido uma das áreas de maior sucesso. Em mulheres grávidas vivendo com HIV, a TARV reduz o risco de transmissão para menos de 2%.

Os avanços são vários. No entanto, o estigma em torno do HIV ainda é uma barreira significativa no Brasil. Muitas pessoas deixam de buscar diagnóstico ou tratamento por medo da discriminação, perpetuando a disseminação do vírus. Por isso, campanhas de educação e conscientização são fundamentais para quebrar esses tabus.

Um futuro com menos HIV

Com esforços contínuos em prevenção, diagnóstico precoce e tratamento, o Brasil pode reduzir ainda mais os índices de novas infecções. A disseminação de informações sobre o HIV e a ampliação de políticas públicas inclusivas são essenciais para alcançar uma geração livre da AIDS.

Neste mês de dezembro, quando celebramos o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS (01/12), lembremos que o combate ao HIV é uma responsabilidade de todos. Desde a conscientização até a inovação tecnológica, cada passo é crucial para transformar vidas.

Em suma, o cenário do HIV no Brasil é desafiador, mas promissor. Graças aos avanços na medicina e à implementação de políticas públicas eficazes, muitas vidas estão sendo salvas e a qualidade de vida de quem vive com HIV tem melhorado significativamente. 

Porém, o trabalho não pode parar. A luta contra o HIV é contínua e depende da união de esforços entre governos, profissionais de saúde e a sociedade civil.