Andreia Soares – Assessora Científica Labtest

O mercado diagnóstico está em pleno crescimento. Em 2022, segundo dados da Abramed, esse mercado teve uma receita bruta de 40 bilhões de reais, realizando um total de 2,2 bilhões de exames de diagnósticos.

Podemos observar no painel de 2022 da Abramed que o setor se mantém em crescimento, impulsionado pelos avanços tecnológicos, pela crescente utilização de exames relacionados ao diagnóstico precoce e definição de terapias personalizadas, e pela crescente preocupação das pessoas com a própria saúde e bem-estar.

Essas transformações trazem desafios permanentes, como a necessidade de infraestrutura de qualidade, recursos tecnológicos e profissionais capacitados para atender a essa demanda.

Segundo o Censo do IBGE de 2022, houve uma queda acentuada da taxa de crescimento geométrico da população, implicando uma aceleração do envelhecimento. A proporção de idosos (+60) no Brasil pode atingir 33% da população antes do previsto atualmente, que seria em 2060. 

Ao envelhecer, o país também está gradativamente deixando de ser um país de prevalência de doenças infectocontagiosas para um país de prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Assim, a consequência da dinâmica demográfica é a demanda crescente por serviços de saúde. 

Estima-se que, em decorrência do envelhecimento populacional e de variações do nível de renda, a demanda por exames diagnósticos deverá crescer 96% até 2050.

Diante disso, as empresas de medicina diagnóstica devem buscar aprimorar-se constantemente, focando a ética, o compliance e as boas práticas. 

Nesse cenário, a gestão laboratorial é tema obrigatório, pois trata-se de processos e práticas que permitem maximizar a utilização dos recursos, reduzir o tempo de execução dos exames e evitar desperdícios, o que, consequentemente, leva a uma melhoria significativa na eficiência e na satisfação do cliente, além de traçar estratégias de crescimento do negócio e perenidade no mercado.

Quais estratégias adotar para crescimento sustentável em 2024?

Em um mundo pós-pandemia e de guerra internacional, a imprevisibilidade e a insegurança permeiam as tomadas de decisões. 

Fazendo uma analogia da teoria do mundo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) do antropólogo e futurista Jamais Cascio, quais estratégias adotar para o crescimento sustentável em 2024?

Não existe uma fórmula pronta, cada laboratório está inserido em uma realidade mercadológica específica de acordo com sua região. Mas podemos sinalizar o caminho. 

1. Mercado Frágil: que muda rapidamente.

O setor de diagnóstico é altamente regulado e está sujeito à mudanças na legislação, um exemplo foi  a publicação da RDC Nº 786/2023, que entrou em vigor em agosto deste ano. 

Dentre várias inovações nas regras, destaca-se a nova categorização de serviços que realizam atividades relacionadas aos EAC (Exames de Análises Clínicas):

• Serviço tipo I (farmácias e consultórios isolados);

• Serviço tipo II (postos de coleta);

• Serviço tipo III (laboratórios clínicos, laboratórios de apoio e laboratórios de anatomia patológica).

 Os testes realizados em farmácia não servirão como diagnóstico, mas sim como exames de triagem e como apoio ao diagnóstico de doenças.

Estratégias:

1. Fortalecer a relação com o cliente, destacando-se por um atendimento humanizado e eficiente. A própria RDC 786/2023 contém requisitos quanto a necessidade de um sistema informatizado para o registro, o armazenamento e a transmissão dos dados dos EAC e a exigência de um controle de qualidade interno e externo, garantindo um serviço baseado em confiança e acurácia.

1. Outra estratégia é desenvolver um olhar disruptivo para o mercado e identificar tendências, novos nichos e públicos. Amplie sua rede de atendimento e serviços, faça “collabs” com clínicas, farmácias, etc.

“O que oferecíamos não era tangível, mas o intangível. Era qualidade, competência, credibilidade, inovação, presteza, acolhimento, o jeito diferente de atender e o foco no cliente, valores que sempre nos pautaram.” Sandra Soares Costa. 

Citação de Empreendendo Sonhos – a história do laboratório Sabin e seu premiado modelo de gestão, com Janete Ribeiro Vaz e Sandra Soares Costa. 

2. Mercado Ansioso: Imprevisível

Novas empresas e ramos de negócio entrantes no mercado geram ansiedade e podem prejudicar o foco do empreendimento. Pensando nisso:

Estratégias:

1. Montar um portfólio completo de exames.
2. Ter um plano de marketing sólido que reflita a estratégia do laboratório; fuja do marketing de massa. Faça seu plano personalizado moldado em seus objetivos, público-alvo e foco de atuação no mercado.
3. Tenha autonomia na execução de seus exames: com uma gestão eficiente você conseguirá internalizar perfis de exames que hoje terceiriza. 

Este fato trará maior visibilidade e credibilidade na comunidade médica e consequentemente na opção de escolha dos clientes. Hoje a indústria de produtos IVD está em grande expansão no mercado brasileiro e, além da produção nacional de kits de bioquímica, hematologia, microbiologia, temos a novidade de produção de kit de imunologia, quimioluminescência. 

Com a produção nacional, a indústria consegue fornecer kits com um valor mais acessível e equipamentos dimensionados para os pequenos e médios laboratórios, além de serviços especializados.

“Três áreas são fundamentais para o sucesso ou insucesso de qualquer empresa: marketing, financeiro e TI. A grande causa da mortalidade das empresas é não saber falar com o mercado, mostrar quem é e o que faz. ” Janete Ribeiro Vaz.

Citação de Empreendendo Sonhos – a história do laboratório Sabin e seu premiado modelo de gestão, com Janete Ribeiro Vaz e Sandra Soares Costa. 

3. Mercado não linear: causa e consequência

Uma decisão tomada hoje pode ter resultados desproporcionais e imprevisíveis diante da aceleração dos acontecimentos.

Neste contexto, o laboratório deve-se atentar para melhoria contínua de sua gestão. Se estamos falando de resolução de cenários complexos e diversidade de pessoas, é preciso gestão de pessoas, áreas, funções e temas, tudo de forma integrada e sistêmica.

Estratégias:  

1. Clareza de propósito e visão dos objetivos a serem alcançados.
2. Adote indicadores de desempenho (gasto com pessoal, produtividade do pessoal, recoleta, terceirização, comunicação de resultados críticos, atendimento e tempo de espera, tempo para realização dos exames TAT, custo dos exames, fluxo de caixa, etc.).
3. Conduza sua equipe em direção à profissionalização da gestão.

“No Sabin, temos metas monitoradas por setor, pontualidade na entrega, cadastro de urgência, limites críticos, resultados alterados, etc.” Lídia Abdalla.

Citação de Empreendendo Sonhos – a história do laboratório Sabin e seu premiado modelo de gestão, com Janete Ribeiro Vaz e Sandra Soares Costa. 

4. Mercado incompreensível

Em muitos momentos faltam respostas. O acesso e controle de dados pode parecer uma fonte de soluções, mas a capacidade humana de processar as informações é limitada. A diversidade de opiniões e informações desafiam e exige um olhar crítico para uma boa tomada de decisão.

Se precisamos inovar para nos manter ativos, diariamente uma nova verdade, condição ou processo passará a fazer parte do nosso dia a dia. Portanto, mais do que aceitar o novo, precisamos estar aptos a enxergá-lo e buscá-lo constantemente e, ainda, ensinar ao outro.

Estratégias:  

1. Não tenha respostas prontas: questione, racionalize, entenda padrões, considere perspectivas. 
2. Crie rede de relacionamentos, networking na área laboratorial e médica, o que hoje é um desafio em seu negócio pode já ter sido resolvido em outro, encurta caminhos.
3. Participe de feiras, congressos, eventos de inovação na área healthcare. Desenvolva relacionamentos com universidades e centros de produção de conhecimentos.

“Em 30 anos, estiveram em todos os congressos de Patologia e Análises Clínicas para conhecer os lançamentos, as metodologias e as inovações tecnológicas…. Embora com estrutura tímida e a parte técnica pequena e apertada, tínhamos a visão ampla, de futuro e modernidade. ” Janete Ribeiro Vaz.

Citação de Empreendendo Sonhos – a história do laboratório Sabin e seu premiado modelo de gestão, com Janete Ribeiro Vaz e Sandra Soares Costa. 

4. Seja humano

Mais do que habilidades técnicas, para fluir entre todas as demais habilidades é fundamental o desenvolvimento das chamadas soft skills, que motivam uma cultura humanizada, que valoriza a interação, a diversidade e a construção do coletivo para a inovação em cenários complexos.

“Janete e Sandra impregnaram a cultura do Sabin de um profundo respeito às pessoas…Sua grande lição é que o respeito às pessoas traz resultado financeiro. ” 

Citação de Empreendendo Sonhos – a história do laboratório Sabin e seu premiado modelo de gestão, com Janete Ribeiro Vaz e Sandra Soares Costa. 

A era pós-pandemia chega com a aceleração digital e faz com que precisemos reaprender e entender de novo o nosso mundo.

Fomos obrigados a descobrir novas formas de usar a tecnologia: reuniões remotas, treinamentos on-line, acesso remoto a equipamentos para resolução de chamados, ferramentas de integração e troca de informações.

A nossa relação com a tecnologia e canais digitais trazem uma mudança para todo nosso comportamento – e isso não tem volta! 

Não importa os fatos, mas sim como você reage a eles. 

E, no cenário atual, a melhor resposta é: buscar fazer o melhor de forma eficiente e diretiva. Você sabe onde estão os gargalos em seu laboratório, não jogue a poeira para debaixo do tapete! 

A hora é agora de acertar o que precisa de melhor performance! As ferramentas estão afiadas, que venha 2024!

“Se eu tivesse 9 horas para cortar uma árvore, passaria as 6 primeiras afiando o machado. ” Abraham Lincoln“

Bibliografia

https://abramed.org.br/ Painel Abramed – O DNA do diagnóstico 2022

https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2023/06/RDC-786-2023-do-PNCQ-16-06-23.pdf

https://www.sbac.org.br/

http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/5919009/RDC_786_2023_.pdf/d803afbc-59c1-4dc2-9bb1-32f5131eca59

NABUCO, Cristina. Empreendendo Sonhos. A história do Laboratório Sabin e seu premiado modelo de gestão. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.