Dia Mundial do Rim: conscientização para um problema de saúde pública

 

Idealizado pela Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) e pela Federação Internacional de Fundações do Rim (IFKF), o World Kidney Day, ou Dia Mundial do Rim, que desde 2006 é celebrado na segunda quinta-feira do mês de março, tem como principal objetivo reduzir o impacto da Doença Renal Crônica (DRC) em todo o mundo. Este ano, a campanha ‒ que no Brasil é coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia ‒, está programada para o dia 11 de março e contará com ações para engajar pessoas já portadoras de doenças renais,  promovendo entre elas a importância da participação significativa no tratamento, incentivando o autocuidado e proporcionando sobrevida e qualidade de vida aos pacientes.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 10% da população mundial apresenta algum tipo de disfunção renal. Os números mais recentes mostram que a previsão é um aumento de 17% para a próxima década. Por isso, milhões de pessoas em mais de 150 países poderão participar de inúmeros eventos que vão destacar a importância da prevenção da doença renal, reconhecida como um problema global de saúde pública. Neste ano, o tema da campanha é “Vivendo bem com a doença renal”, justamente para promover a educação e a conscientização sobre os sintomas, bem como capacitar o paciente para uma participação significativa no processo de tratamento, desenvolvendo habilidades e suporte para um autogerenciamento eficaz.

 

Doença renal e seus impactos no dia a dia

Os rins participam do controle e do equilíbrio do organismo, incluindo a filtração e depuração de toxinas e metabólitos, como a creatinina, regulação do volume de sangue, controle da pressão arterial, balanço hidroeletrolítico e interação com o metabolismo de outros órgãos. Dada a importância desses órgãos para o nosso organismo, a doença é considerada um problema de saúde pública e apresenta proporções epidêmicas, se caracterizando pela perda progressiva e irreversível da função renal e pela evidência de anormalidades estruturais e funcionais dos rins.

A caracterização da perda da função renal é estabelecida de forma direta ou indireta por meio da análise da creatinina sérica. Em geral, nos estágios iniciais, a doença renal é silenciosa, ou seja, não há sintomas ‒ ou eles são discretos e inespecíficos. Quando desenvolvida já na infância, o impacto pode ser devastador para o paciente, levando a complicações, como dificuldade no crescimento, deformidades ósseas, anemia e pressão alta, com perda significativa da qualidade de vida. Vale destacar que a principal causa de doenças renais na infância são as malformações do trato urinário que, muitas vezes, não são diagnosticadas no pré-natal ou em outras situações de risco, tais como glomerulopatias e doenças sistêmicas que podem comprometer os rins.

Ser diagnosticado com uma doença renal pode ser um grande desafio não só para o paciente, mas também para as pessoas de seu convívio. O diagnóstico e tratamento em estágios avançados da doença também têm impactos severos nas vidas do paciente e de seus familiares, reduzindo a capacidade para atividades corriqueiras, incluindo trabalho, viagens e socialização.

 

A diferença das doenças renais: aguda e crônica

Existem dois tipos de doenças renais: a Insuficiência Renal Aguda (IRA), que ocorre de modo súbito e com rápida perda da função renal, se não tratada adequadamente; e a Doença Renal Crônica (DRC), que ocorre de modo lento, progressivo e irreversível.

A DRC age silenciosamente, sem manifestação de sinais e sintomas evidentes nas fases iniciais. Em virtude do diagnóstico tardio, o funcionamento do órgão já está comprometido, sendo necessário o tratamento de diálise ou transplante renal.

Como a doença renal crônica tem uma evolução assintomática, o que acaba dificultando o diagnóstico precoce, é importante atentar-se aos sinais sutis, tais como dificuldade de concentração, diminuição do apetite, fadiga, inchaços dos tornozelos e urina espumosa.

 

Fatores de risco e principais sintomas

A doença renal causa vários sintomas inconvenientes, tais como fadiga, dor, depressão, prejuízo cognitivo, problemas gastrointestinais e sono. Os principais grupos de risco para o desenvolvimento da doença são os hipertensos, os diabéticos, os obesos e aqueles que têm histórico familiar de doença renal ou cardiovascular.

A enfermidade requer cuidados, razão pela qual é preciso estar atento não só para o tratamento, mas, principalmente, em controlar os fatores de risco. Entre os mais comuns, podemos citar diabetes, hipertensão, dislipidemia, obesidade, doença cardiovascular e tabagismo. Além disso, o paciente deve ser orientado sobre os perigos da automedicação, haja vista que o uso de qualquer tipo de medicamento só pode ser realizado mediante prescrição médica.

 

É possível viver bem com a doença

Cuidar da saúde de todo o organismo ajuda a proteger a saúde dos rins e reduz os riscos de evolução da doença renal. Há um consenso de que o desenvolvimento da enfermidade está relacionado ao dia a dia que a pessoa leva, por isso, é importante introduzir hábitos saudáveis à rotina.

Veja a seguir algumas dicas que podem ajudar o paciente renal a conviver bem com a doença e a ter mais qualidade de vida:

 

  • Continue trabalhando se possível. Mesmo se você tiver que se afastar do trabalho por algum tempo para se ajustar a uma nova situação, procure trabalhar em tempo parcial ou em tempo integral. Manter um emprego é uma boa maneira de se manter ativo e engajado.
  • Se planeje para as mudanças que a doença renal crônica pode causar no seu orçamento. Busque orientação com assistentes sociais e organizações de doentes renais.
  • Preste atenção às suas emoções: dê um tempo a si mesmo para se adaptar e se sentir no controle de sua vida novamente.
  • Peça ajuda quando precisar. Converse com a sua família e amigos, com outros pacientes renais, com o seu clero ou com a sua equipe de saúde.
  • Cultive a sua valorização da vida. Faça as coisas que são mais importantes para você e que lhe trazem mais alegria.
  • Pratique exercícios físicos regularmente e da forma adequada. Converse com o seu médico sobre o nível correto de exercícios para você.
  • Controle o colesterol, a glicose, o peso e a pressão arterial.
  • Mantenha uma dieta saudável, evitando o excesso de sal e carnes vermelhas. Converse com seu médico e seu nutricionista para encontrar dietas adequadas, siga-as o máximo possível e veja como elas afetam os resultados dos seus exames laboratoriais.
  • Realize exames preventivos (como os de uréia e de creatinina). Acompanhe os resultados ao longo do tempo e aprenda o que eles significam, afinal, sua equipe de saúde sabe muito sobre doença renal, mas você é o especialista sobre si mesmo.
  • Descubra quais são os sintomas da DRC e informe todos os seus sintomas, tudo que você estiver sentindo, ao seu médico. Alguns problemas, como a fadiga, podem ser tratados para ajudar você a se sentir melhor. Por isso, consulte o médico com regularidade.
  • Busque informações sobre a doença renal e, especialmente, sobre a sua própria condição. Converse com a equipe que trata você para descobrir como aplicar as informações sobre a doença ao seu dia a dia.
  • Conheça os seus medicamentos, suas dosagens corretas, o nome e a finalidade de cada um. Há medicamentos, como algumas classes de comprimidos para controle da pressão arterial, que podem retardar o progresso da doença renal. Pergunte ao seu médico o que é certo para você.
  • Esteja ciente das possíveis complicações da doença renal, incluindo anemia, acidose metabólica, doença óssea, doença cardiovascular, sobrecarga de fluidos e altos níveis de potássio e fósforo. Cada uma dessas complicações pode ser detectada com os exames apropriados.
  • Visite um centro de diálise para obter mais informações sobre hemodiálise. Se este for o seu caso, faça todos os tratamentos que forem prescritos. Monitore o seu Kt/V ou URR (medidas para saber se o seu sangue está sendo limpo adequadamente) e outros valores laboratoriais ao longo do tempo. Descubra o que fazer para melhorar os resultados dos seus exames caso eles não sejam satisfatórios.
  • Se a sua insuficiência renal for grave, discuta com o seu nefrologista sobre a possibilidade de um transplante. Se isso acontecer, tome todos seus medicamentos nas datas e horários corretos, e preste atenção para quaisquer sinais de infecção, rejeição ou outras doenças.

 

Sua vida pode ser diferente quando você tem doença renal crônica (DRC), mas ainda é possível aproveitá-la. Dar um passo de cada vez é a melhor maneira de enfrentar qualquer mudança.