ISTs: como lidar com esse problema de saúde pública
17 out 2022
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), anteriormente conhecidas como DSTs, são causadas por diversos patógenos como vírus, bactérias ou outros microorganismos. A maioria das ISTs possui sintomas semelhantes, além do principal modo de prevenção ser comum entre elas. Mas quais são as melhores estratégias para identificar e tratar as ISTs?
Confira a introdução sobre o assunto que a Labtest preparou para entender melhor sobre a nomenclatura, transmissão, diagnóstico, tratamento e prevenção das ISTs.
Mudança de DST para IST
A nomenclatura dessas enfermidades foi alterada no Brasil em 2016, de acordo com o Decreto nº 8.901/2016, que adotou a sigla já utilizada internacionalmente e pela OMS, IST.
A mudança ocorreu pois o “D”, presente em DST, fazia referência a doença, o que implica em sintomas e sinais perceptíveis no organismo do indivíduo. Já a letra “I” denota infecção, um termo mais apropriado, uma vez que alguns desses quadros podem apresentar períodos assintomáticos, como a sífilis e a herpes genital, ou até se manter latente durante toda a vida da pessoa, como é o caso do HPV, por exemplo.
Por conta da possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas, definiu-se IST como a terminologia adequada para se referir a este grupo de infecções.
Transmissão e patógenos relacionados às ISTs
As ISTs podem ser transmitidas por duas vias principais:
- Por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de preservativo, com uma pessoa que esteja infectada
- De forma congênita/vertical, ou seja, da mãe para a criança durante a gestação, o parto ou a amamentação
Eventualmente, as ISTs podem ser transmitidas por meio não sexual, através do contato de mucosas, pele com feridas e secreções corporais contaminadas e por via sanguínea.
De acordo com a OMS, oito patógenos estão relacionados à maior incidência de ISTs. Destes, atualmente quatro possuem cura: Sífilis, Gonorreia, Clamídia e Tricomaníase; e outros quatro são incuráveis: Herpes Genital (HSV-2), HPV, HIV e Hepatite B (HBV).
As ISTs não só têm o impacto imediato da própria infecção, como também podem desencadear outras consequências graves. O curso clínico da sífilis, por exemplo, pode ser alterado em caso de coinfecção com HIV, podendo levar a ocorrência de manifestações atípicas ou até mais agressivas.
Sintomas e manifestações clínicas
As infecções sexualmente transmissíveis podem ser assintomáticas e, quando os sintomas surgem, podem ser inespecíficos, uma vez que apresentam semelhanças entre si. As principais manifestações clínicas são: corrimento vaginal, corrimento uretral, úlceras genitais e verrugas anogenitais.
Embora possam ocorrer variações, essas manifestações têm agentes etiológicos bem estabelecidos, auxiliando na escolha dos testes diagnósticos e tratamento.
Vale ressaltar que o corrimento vaginal é normal e natural. A vagina produz naturalmente uma secreção esbranquiçada ou transparente, com um cheiro característico. Sua alteração pode ter diversas causas além das ISTs, como a vaginose bacteriana e a candidíase vaginal.
Diagnóstico e tratamento das ISTs
Como a infecção pode ou não apresentar quadro clínico, é importante que o profissional da saúde esteja preparado para conduzir a investigação laboratorial após a suspeita do risco de IST. Além disso, é imprescindível conhecer os conceitos de janela diagnóstica e soroconversão.
De acordo com o Fluxograma de Manejos Clínicos das ISTs, publicado em 2021 pelo Ministério da Saúde, para HIV, Sífilis, Hepatite B e Hepatite C, o rastreamento das infecções deve ser realizado, preferencialmente, com testes rápidos.
Segundo o Ministério da Saúde, os testes rápidos vêm sendo cada vez mais utilizados para o diagnóstico de infecção com as vantagens de apresentarem resultado em no máximo 30 minutos, podendo ser lidos a olho nu e não necessitam de equipamentos especiais para sua execução. Os testes rápidos e outras metodologias são indicados pela portaria SVS/MS nº 151, de 14/10/2009, como uma das opções para a etapa de triagem de amostras.
Em nenhuma hipótese os testes rápidos devem ser utilizados com a finalidade de triagem sorológica de doadores de sangue. Quando utilizados adequadamente, os testes rápidos são excelentes ferramentas e permitem a ampliação do diagnóstico das infecções sexualmente transmissíveis.
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A detecção de Clamídia e Gonorreia deve ser realizada por biologia molecular, em diferentes amostras (urina, endocervicais, secreção genital, anais e faríngeas), de acordo com a prática sexual.
Prevenção e cuidados
Algumas medidas simples podem auxiliar na prevenção, sendo a principal delas o uso do preservativo, masculino ou feminino, como método de barreira eficaz contra o HIV e outras ISTs.
Outras intervenções são comprovadamente eficazes e precisam ser incorporadas à proposta de prevenção combinada, tais como o acesso à profilaxia pós-exposição ao HIV e profilaxia pré-exposição, com indicação médica.
Políticas de incentivo à adesão aos tratamentos, comunicação, diagnóstico precoce e tratamento dos parceiros sexuais, além das notificações das ISTs, também são fundamentais.
Existem vacinas contra os vírus HPV e HBV, sendo recomendado que todas as pessoas sejam vacinadas contra a Hepatite B, independentemente da idade e/ou condições de vulnerabilidade. Já a vacina contra o HPV tipos 6, 11, 16 e 18 é indicada para adolescentes de 9 a 13 anos de idade e para mulheres HIV-positivas de 9 a 26 anos, sendo necessária prescrição médica para o último grupo. Ambas as vacinas estão disponíveis pelo SUS.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, mais de 1 milhão de infecções sexualmente transmissíveis são adquiridas todos os dias no mundo e a maioria é assintomática. Essa estatística mostra que as ISTs têm grande impacto na saúde sexual e reprodutiva da população, sendo um problema de saúde pública que merece atenção.
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Referências:
- Sexually transmitted infections (STIs)
- Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. – Brasília, 2015.
- Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. HIV Estratégias para utilização de testes rápidos no Brasil. Brasilia, 2010.
- Ministério da Saúde. Secretária de atenção primária a Saúde (SAPS). Testes rápidos de HIV e Sífilis na Atenção Básica.