O cenário da medicina laboratorial está sofrendo mudanças em função da pandemia do SARS-CoV-2, causador da COVID-19. Os laboratórios tiveram que se adaptar ao que está sendo chamado de “novo normal”. 

Cuidados diários relacionados à biossegurança foram introduzidos em todos os serviços essenciais, o que impactou também na rotina dos laboratórios, a fim de evitar a transmissão e o avanço da COVID-19. Esse assunto foi abordado no artigo: “Biossegurança aplicada aos laboratórios durante a pandemia da COVID-19”.

Para colaborar com o estudo de novas práticas, a Dra. Waldirene Nicioli, diretora da Examinare e gestora da Organização Feminina de Análises Clínicas (OFAC), e Dra. Ana Kênila Frota, especialista em análises clínicas da Biodiagnósticos, apresentam neste artigo algumas soluções para mitigar os impactos da pandemia nos laboratórios, que se configuram como tendência neste “novo normal”. 

 

Mudanças provocadas pela COVID-19 nos laboratórios

Alguns estudos apontam que o SARS-CoV-2 pode sobreviver em superfícies por vários dias. Em vista disso, os laboratórios precisam tomar cuidado para evitar a contaminação de equipamentos, pacientes e profissionais. Com a pandemia, os laboratórios tiveram que adotar um plano de contingência para combater a COVID-19, além de seguir as recomendações dos órgãos governamentais e representativos.

Entre as mudanças adotadas pelos laboratórios está a segregação de pacientes que apresentam sintomas respiratórios, disponibilidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) diferentes dos utilizados normalmente, aumento da frequência de descontaminação nos ambientes sociais e cuidados na distância mínima entre os clientes. No entanto, outros tipos de serviços, antes disponibilizados por conveniência, passaram a ser solicitados com mais frequência, como as coletas de exames domiciliares e em drive thru, conforme observado pelas especialistas.

“Com a pandemia, conseguimos dar um atendimento mais personalizado e privado, como coletas domiciliares ou em drive thru. Nas coletas domiciliares, atendemos todo o protocolo de segurança, como a proteção de sapatos. Fazemos os agendamentos, com dia e hora marcada, deixando assim o paciente muito mais satisfeito em relação à comodidade, conforto e segurança. Houve também uma mudança no comportamento do paciente, que antes vinha buscar o resultado impresso, mas hoje já prefere acessar o site ou solicitar o envio por WhatsApp”, explica Waldirene. 

“Organizamos o fluxo de saída de veículos, a fim de atender os clientes nos horários previamente agendados, para a coleta domiciliar e empresarial, por meio do nosso serviço biomóvel. Neste período oportuno, também implantamos o serviço de drive thru para coleta de sangue. Para esta modalidade de atendimento, criamos o canal direto de agendamento, onde o cliente faz todo o processo de cadastro por WhatsApp e só conferimos a identidade do paciente, que assina os protocolos internos no momento que precede a coleta”, relata Ana Kênila.

 

Desafios a serem superados pelos laboratórios

O cenário atual exige que os processos laboratoriais sejam muito bem administrados para que os atendimentos sejam realizados de forma eficiente e os efeitos da pandemia sejam mitigados. Os desafios a serem superados pelos laboratórios estão ligados à adaptação a essa nova realidade, mas sem se esquecer das outras doenças que necessitam da realização de exames e demandam procedimentos clínicos.

“Tivemos alteração da demanda e do fluxo para o atendimento de pacientes, mas é preciso lembrar que a população continua adoecendo, pois as demais doenças não desapareceram. Os pacientes precisam de atendimento, tratamento e acompanhamento adequado. Portanto, seguimos funcionando, mas com ajustes essenciais”, explica a gestora da OFAC.

No entanto, há outro tipo de desafio inerente a todos, inclusive à comunidade científica, que trabalha para descobrir como o vírus age no organismo humano, como observou a especialista em análises clínicas. 

“Nossos questionamentos são os mesmos do que os de muitos pacientes e profissionais de saúde. Neste momento, temos que nos atualizar a toda novidade científica e informar de maneira clara ao paciente, conforme o que dispomos em literatura. O desafio tem sido entender o comportamento do novo coronavírus, o 

reflexo dele no sistema imune e proporcionar ao cliente o máximo de qualidade no diagnóstico com exames sorológicos”, acrescenta Ana Kênila.

 

Popularização dos termos e as informações falsas

O acesso à informação está cada vez mais democratizado, possibilitando que as pessoas se interessem pelos acontecimentos e comecem a estudá-los. “É muito comum, principalmente em doenças crônicas, os pacientes procurarem informações sobre sua patologia. Hoje, o acesso a elas está muito fácil e extremamente rápido”, explica Waldirene. 

Alguns termos ficaram cada vez mais frequentes em jornais, programas de televisão e redes sociais, por exemplo: assintomático, EPI, grupo de risco, pandemia, período de incubação, entre outros. “À medida que se tornam mais conhecidos pela população e são inseridos no vocabulário, facilitam no momento de esclarecer um resultado, laudo ou sintoma”, explica a gestora.

A internet é uma das principais responsáveis por levar esse conhecimento, tornando os pacientes mais exigentes quanto aos serviços prestados. Sobretudo, a gestora alerta sobre a disseminação de notícias falsas. “As informações nem sempre são fidedignas.” 

Para combater tais informações, as instituições de saúde têm o compromisso de esclarecer os questionamentos vindos dos pacientes, ajudando, por exemplo, a orientar qual o melhor teste a ser feito. “Todo o contato ou informação que chegue à população deve ser informativo e claro. Os pedidos de exames para detecção do vírus ou sorologia para a COVID-19 são, na maioria das vezes, por solicitação própria. No momento do atendimento ao cliente para o agendamento do seu exame, devemos, enquanto instituição de saúde, informar o melhor teste ou momento para a coleta de amostras para realizar os exames. Dúvidas surgem até mesmo por parte da equipe e precisam ser sanadas, para que a informação chegue de forma completa ao cliente”, observa Ana Kênila.

 

Perspectiva dos laboratórios 

Os efeitos causados pela pandemia da COVID-19 são notórios na vida social e econômica em proporções planetárias. A população continua sendo acometida por diversas doenças, incluindo pacientes portadores de doenças crônicas, que requerem exames laboratoriais tanto para diagnóstico quanto para monitoramento. Assim, os serviços prestados pelos laboratórios se tornam ainda mais indispensáveis.  

“A grande questão é como atender a este novo formato de coleta e se adaptar a essa nova realidade de procedimentos. O planejamento neste momento é tão importante quanto a capacidade de adaptação. Precisamos ser capazes de analisar e criar ações para os possíveis distintos cenários, desde os mais otimistas aos mais pessimistas”, explica Waldirene.

Não é possível prever quais serão os problemas a serem enfrentados, mas o cenário atual pode servir como lição. Caso surjam novos surtos, os laboratórios estarão mais preparados para esse enfrentamento. “Qual será a situação do laboratório, após a pandemia, ninguém pode dizer efetivamente, mas é fato que as ações tomadas durante a crise determinarão a visibilidade (positiva ou não) do negócio”, finaliza a gestora da OFAC.

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