O Dia Mundial do Câncer, celebrado anualmente no dia 4 de fevereiro, é uma data dedicada à conscientização sobre o câncer, sua prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e cuidados. 

 

A campanha é organizada pela Union for International Cancer Control (UICC), e o objetivo é aumentar o conhecimento global sobre a doença, reduzir o estigma e promover ações para diminuir o impacto do câncer na vida das pessoas.

 

Estimativas fornecidas pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que, para o triênio de 2023 a 2025, ocorrerão 704 mil casos novos de câncer, 483 mil se excluídos os casos de câncer de pele não melanoma. São estimados 74 mil (10,5%) pelos cânceres de mama; próstata, com 72 mil (10,2%); cólon e reto, com 46 mil (6,5%); pulmão, com 32 mil (4,6%); e estômago, com 21 mil (3,1%) casos novos.

 

Na população feminina, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama feminina é o mais incidente no país e em todas as regiões brasileiras. O maior risco estimado é observado na Região Sudeste, de 84,46 por 100 mil mulheres, em seguida a Região Sul com 71,44 casos por 100 mil. 

 

E, a cada ano, mais de 30 mil mulheres são diagnosticadas com tumores ginecológicos no Brasil, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

 

Entre os homens, o câncer de próstata é o tumor mais incidente no Brasil e em todas as regiões e, entre as mulheres, o de mama é o com maior incidência.

 

Distribuição proporcional dos tipos de câncer mais incidentes estimados para 2023 por sexo, exceto pele não melanoma* – Tabela adaptada:

 

Distribuição proporcional dos tipos de câncer mais incidentes estimados para 2023 por sexo, exceto pele não melanoma* - Tabela adaptada

 *Números arredondados para múltiplos de 10

Fonte de dados: INCA

 

Diagnóstico

O diagnóstico tumoral é um processo médico fundamental para a detecção, identificação e classificação de um tumor (neoplasia) no corpo humano. 

 

Esse diagnóstico visa determinar a natureza do tumor (benigno ou maligno), sua localização, tamanho e grau de agressividade, para, assim, orientar as decisões terapêuticas mais adequadas. O diagnóstico precoce é um fator crucial no sucesso do tratamento, já que pode aumentar as chances de cura ou controle da doença.

 

O processo de diagnóstico tumoral geralmente envolve uma combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e imagens, além de, muitas vezes, a necessidade de uma biópsia para confirmação final.

 

Etapas do Diagnóstico Tumoral

 

  1.     Avaliação clínica: o primeiro passo no diagnóstico de um tumor é a consulta médica. O médico realiza uma análise cuidadosa dos sintomas relatados pelo paciente, além de fazer um exame físico. Alguns sinais e sintomas comuns que podem indicar a presença de um tumor incluem dor inexplicada, nódulos, perda de peso não planejada, cansaço excessivo, alterações no apetite e na pele, entre outros. Dependendo dos sintomas, o médico pode suspeitar de um tumor e indicar exames adicionais.
  2.     Exames de imagem: exames de imagem são essenciais para localizar o tumor e avaliar seu tamanho e características.
  3.     Exames laboratoriais: alguns exames laboratoriais, como exames de sangue, podem indicar a presença de substâncias chamadas marcadores tumorais, que são produzidas por algumas células cancerígenas ou pelo corpo em resposta ao câncer. No entanto, a presença de marcadores tumorais nem sempre é um indicativo conclusivo de câncer. Alguns exemplos incluem o antígeno prostático específico (PSA) e CA 15-3.
  4.     Biópsia: a biópsia é o exame definitivo para diagnosticar o câncer. Consiste na remoção de uma amostra do tecido suspeito para análise laboratorial. O tecido retirado é examinado ao microscópio para determinar se há células cancerígenas, além de avaliar as características do tumor, como seu grau de diferenciação (quanto às células tumorais, se parecem com as células normais), que ajuda a entender o comportamento do tumor.
  5.     Estadiamento: o estadiamento do tumor é um processo que determina a extensão do câncer no corpo. Ele avalia o tamanho do tumor primário, a presença de metástases (espalhamento para outros órgãos) e o envolvimento de linfonodos.

 

No âmbito laboratorial, o marcador tumoral é um biomarcador encontrado no sangue, na urina ou nos tecidos do corpo que pode ser elevado pela presença de um ou mais tipos de câncer.  

 

Com base na sua natureza química, os marcadores tumorais podem ser proteínas, proteínas conjugadas, péptidos e hidratos de carbono. Proteínas ou proteínas conjugadas podem ser enzimas, hormônios ou fragmentos de proteínas.

 

Exames sorológicos desempenham um papel crescente e importante no diagnóstico e monitoramento de cânceres, especialmente no auxílio à detecção precoce e no acompanhamento da evolução da doença. Estudos têm mostrado que a detecção de biomarcadores circulantes, como antígenos e anticorpos específicos associados a tumores, oferece uma forma eficiente de identificar e monitorar diversos tipos de câncer.

 

De acordo com as estimativas mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (INCA), os cânceres de mama e próstata representam uma parte significativa do total de casos diagnosticados anualmente. Para o câncer de mama, que afeta predominantemente as mulheres, a taxa de incidência é preocupante, refletindo não apenas fatores biológicos, mas também o aumento da conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce, com mais mulheres realizando exames preventivos, como a mamografia. 

 

Já o câncer de próstata, que é o mais comum entre os homens, também têm uma alta taxa de incidência. A detecção precoce, muitas vezes através do exame de PSA (antígeno prostático específico), é essencial para aumentar as chances de tratamento bem-sucedido, embora ainda haja discussões sobre os critérios para realização desse exame, especialmente para homens sem sintomas ou com menos fatores de risco.

 

O PSA (antígeno prostático específico) é amplamente utilizado no diagnóstico, rastreamento e monitoramento de câncer de próstata, e, o CA 15-3, utilizado comumente no diagnóstico e monitoramento de câncer de mama.

 

PSA (antígeno prostático específico)

 

O PSA é uma glicoproteína produzida pelas células da próstata, e níveis elevados de PSA no sangue estão frequentemente associados ao câncer de próstata.

 

O rastreamento do câncer de próstata por PSA tem sido amplamente debatido. Em um estudo de The European Randomized Study of Screening for Prostate Cancer (ERSPC), publicado no Lancet (2009), foi demonstrado que o rastreamento com PSA reduziu a mortalidade por câncer de próstata em cerca de 21% após 9 anos de acompanhamento, indicando que, para alguns homens, o rastreamento pode ser benéfico.

 

O PSA também é utilizado para monitorar a resposta ao tratamento em pacientes com câncer de próstata. Após tratamento, como prostatectomia radical (remoção da próstata) ou radioterapia, os níveis de PSA são usados para avaliar a eficácia do tratamento. Em casos de sucesso, os níveis de PSA devem ser indetectáveis ou extremamente baixos.

 

A elevação dos níveis de PSA após a prostatectomia pode indicar recidiva da doença.

Um estudo publicado no Journal of Clinical Oncology (2014) examinou o uso de PSA para monitorar pacientes após prostatectomia radical. Os resultados indicaram que a recidiva do câncer de próstata, como evidenciado pelo aumento progressivo do PSA, ocorre em até 30% dos pacientes dentro de 10 anos após a cirurgia. O acompanhamento contínuo com PSA permite identificar recidivas precoces e iniciar tratamentos adicionais, como terapia hormonal ou quimioterapia.

 

Embora o PSA seja uma ferramenta útil, seu aumento pode ser causado por condições não cancerosas, como prostatite levando a falsos positivos. Além disso, alguns cânceres de próstata não produzem níveis elevados de PSA, o que pode resultar em falsos negativos.

 

CA 15-3

CA 15-3 é um antígeno glicoprotéico associado a células de câncer de mama, produzido em maior quantidade por células tumorais. Embora não seja usado como ferramenta primária para diagnóstico, ele é particularmente valioso em contextos específicos, como a monitoração de pacientes com câncer de mama já diagnosticado.

 

Um estudo publicado no Journal of Clinical Oncology (2010) analisou o uso de CA 15-3 para diagnóstico de câncer de mama e concluiu que, enquanto o biomarcador não é sensível o suficiente para ser usado isoladamente no diagnóstico precoce, ele pode ser útil em estágios mais avançados. 

 

A sensibilidade do CA 15-3 varia de 20% a 40% em estágios iniciais, mas aumenta para 70-80% em cânceres de mama metastáticos. A especificidade do teste é de cerca de 85%, o que significa que ele tem uma boa taxa de precisão em identificar pacientes sem a doença, minimizando falsos positivos.

 

Em um estudo publicado no Cancer (2006), o CA 15-3 foi utilizado para monitorar a resposta ao tratamento em pacientes com câncer de mama metastático. A pesquisa demonstrou que os níveis de CA 15-3 tendem a cair em resposta a tratamentos eficazes (como quimioterapia ou terapia hormonal) e a aumentar com a progressão da doença, especialmente em pacientes com metástases ósseas ou hepáticas. 

 

Portanto, ele é particularmente útil para avaliar a resposta a terapias e fornecer pistas sobre a eficácia dos tratamentos.

 

O CA 15-3 é comumente utilizado para detectar recidivas de câncer de mama após tratamento. Ele não é considerado útil para rastreamento de pacientes sem histórico de câncer, mas seu valor aumenta no monitoramento de pacientes com câncer de mama em remissão ou em tratamento.

 

Embora o CA 15-3 seja mais comumente associado ao câncer de mama, níveis elevados também podem ocorrer em outras condições, como câncer de pulmão, ovário, fígado, pâncreas e até em algumas condições benignas, como fibrose cística e doenças hepáticas. Esse comportamento foi observado em um estudo publicado no Journal of Clinical Pathology (2012), que indicou que a utilização do CA 15-3 em outros tipos de câncer, embora possível, é menos confiável devido à falta de especificidade.

 

O diagnóstico tumoral é um passo crucial no manejo do câncer. Ele envolve uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e de imagem, com a biópsia sendo o método definitivo para confirmar a presença e o tipo de tumor. A detecção precoce do câncer é fundamental para aumentar as taxas de sobrevivência, e a conscientização sobre a importância de exames de rastreamento regulares pode ser um fator determinante para salvar vidas.