As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em todo o mundo. Conforme dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, são mais de 1000 mortes por doenças cardiovasculares por dia.

O infarto do miocárdio é causado por coágulos que prejudicam o fluxo sanguíneo levando à morte de células na região do músculo do coração.

Após o Infarto Agudo no Miocárdio, ocorre uma fase inicial com duração de aproximadamente 6 horas, durante a qual as atividades das enzimas séricas se mantêm dentro dos intervalos de referência. 

Essa fase inicial pode ter menor duração, variando conforme a dimensão e características singulares de cada indivíduo. Após essa fase, as atividades enzimáticas se elevam rapidamente com magnitude proporcional à extensão da necrose miocárdica.

A mensuração da Creatina quinase total (CK total) e da isoenzima MB CK-MB através da inibição por anticorpos é um método de ampla utilização e está disponível para, praticamente, todos os laboratórios brasileiros e latino-americanos, oferecendo grandes facilidades operacionais e baixo custo.

A CK-MB é a primeira enzima a se elevar, chegando em média ao seu “pico” nas 24 horas após o início da dor precordial e, devido a sua curta meia-vida, retorna aos níveis pré-infarto entre aproximadamente o segundo e terceiro dia após o início dos sintomas.

 A CKMB tem uma elevação média de 10-25 vezes o valor superior do intervalo de referência.

Gráfico representando o número de vezes que o valor superior do intervalo de referência está aumentado.

Figura 1. Cinética do incremento da CK total e da CK-MB representando o número de vezes que o valor superior do intervalo de referência está aumentado.

A área de hachura corresponde ao intervalo de referência.

A enzima CK total pode se elevar simultaneamente com a CK-MB ou um pouco depois, e chega a um pico entre 18 e 30 horas depois da dor precordial, retornando ao intervalo de referência entre o terceiro e o quarto dia.

A utilização racional da atividade enzimática de CK total e CK-MB para exclusão ou investigação  do Infarto Agudo do miocárdio (IAM) requer uma estratégia diagnóstica estritamente baseada na obtenção de amostras de sangue no intervalo de tempo em que se espera que essas enzimas estejam elevadas. 

 

Vários estudos têm demonstrado que o intervalo de tempo em que a probabilidade de se encontrar elevação das enzimas ocorre entre 10 e 20 horas após o início da dor precordial. 

 

Isso significa que medições mais precoces dessas enzimas contêm um considerável risco de resultado falso negativo, que pode transferir para o médico clínico uma falsa sensação de segurança e levar a decisões incorretas. 

 

Como o diagnóstico de IAM, pode ser excluído, de forma geral,  utilizando as atividades enzimáticas no intervalo entre 10 e 20 horas do início dos sintomas agudos, é fundamental obter as amostras de sangue somente dentro desse intervalo de tempo.

 

Vale ressaltar, que os marcadores laboratoriais também podem estar alterados em consequência de outras patologias ou, entre outros, decorrente de  atividade física. Segundo Cantelle e Lanaro (2011) faz-se necessário a avaliação clínica do paciente, realização de exames complementares junto aos laboratoriais para obtenção para um diagnóstico mais fidedigno.

 

Macro CK

Como sabido, os métodos de imunoinibição possibilitam a identificação da atividade enzimática da CK-MB.O princípio da reação consiste em anticorpos específicos capazes de atuar na inibição da atividade enzimática do monômero CK-M, promovendo a identificação das subunidades B. Contudo, essa mesma subunidade está presente também na molécula de Macro CK.

A macro CK, também denominada CK atípica, é um complexo de CKBB ligada a IgG ou um complexo polimérico de CK mitocondrial. Essas formas de CK não são inibidas pelo anticorpo anti CK-M e geram resultados como se fossem CK-MB, falsamente elevados.

Frequentemente, a macro CK pode representar percentuais entre  12 a 57% da CK total, além de estar associada a valores de CK total dentro do intervalo de referência, apresentando um  comportamento estacionário. 

Desta forma, podemos distinguir entre a CK-MB e macro CK porque a primeira se eleva e se reduz em um intervalo de aproximadamente 30 horas, enquanto a segunda permanece constante. Além disso, a macro CK pode ser reconhecida por apresentar estabilidade ao calor, resistindo a temperatura de 45°C por até 20 minutos.

Ao realizar o aquecimento da amostra de soro, a isoenzima CK-MB é inativada, porém, a macromolécula não é afetada, possibilitando a quantificação da concentração de Macro CK:

Procedimento de quantificação estimada de macro molécula CK

Figura 2. Procedimento de quantificação estimada de macro molécula CK

Cálculo:

CK-MB (U/L) = CK-MB inicial – CK-MB após aquecimento do soro

A medição da atividade da CK total e da CK-MB pode ser realizada rápida e eficientemente com métodos bioquímicos associados com imunoinibição. 

Quando se utilizam estratégias apropriadas para obtenção de amostras nos tempos onde o valor preditivo dos testes é mais significativo, obtêm-se resultados de especificidade e sensibilidade clínicas de significativo valor diagnóstico.

A utilização de uma estratégia bem definida para o diagnóstico do Infarto Agudo no Miocárdio (IAM) pode contribuir para obter resultados eficientes tanto para exclusão definitiva do evento como para confirmação do IAM com 98% de probabilidade.

 

Referências: