Tema é debatido no 45º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas, que acontece até quarta, dia 20, no Rio; empresas disputam mercado acirrado, dominado por grandes marcas

 

A gestão profissionalizada de laboratórios, crucial para a sobrevivência de negócios do segmento, é destaque na pauta do 45ª Congresso Brasileiro de Análises Clínicas, promovido pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), até amanhã, no Rio de Janeiro. Além dos conteúdos científicos de peso, com palestras, workshops e expositores de todo o Brasil, as atividades práticas privilegiam o tema da gestão, entendendo o desafio dos laboratórios, na maioria pequenos negócios de origem familiar, para garantir competitividade no acirrado mercado brasileiro. Hoje existem mais de 21 mil laboratórios de análises clínicas no país, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNESWeb), com domínio de grandes grupos.

Para discutir a prática da gestão interna de custos em laboratórios, a mineira Labtest, maior indústria brasileira de diagnóstico in vitro, promoveu ontem no evento o workshop Gestão de custos do Laboratório Clínico: como iniciar, ministrado pelos especialistas do Laboratório Geraldo Lustosa, o diretor Mozart Chaves e o controller Claudinei Teixeira Rodrigues. Com abordagem dirigida a gestores de pequenos negócios, os profissionais desenvolveram os temas: receitas e despesas operacionais, estoque, fluxo de caixa, capital de giro e ponto de equilíbrio. “Custo sempre foi um desafio para os laboratórios. O workshop teve o objetivo de ajudar, numa fase inicial, os gestores de laboratórios para que tenham planejamento e visão aplicada. Hoje é muito importante utilizar os recursos de maneira adequada, com retorno para o negócio”, destacou a presidente da Labtest, dra. Eliane Lustosa.

“Uma empresa existe para gerar valor”, destacou Rodrigues, lembrando que a rentabilidade é fundamental para qualquer negócio. O profissional abordou os conceitos de receita bruta e líquida, custo direto e indireto, custo fixo e variável. “É importante gerar volume de exames para diluir o custo fixo, e isso envolve negociar bem a locação, ter controle rigoroso com energia e condomínio, considerar o tíquete-médio do cliente e o número de exames realizados”, explicou. Os especialistas recomendam aos laboratórios negociar com os fornecedores, controlar custos e garantir a qualidade. “Entregar o exame mais rápido significa reter o paciente e o médico, que gostam disso. O dono de laboratório tem que atuar como gestor”, ponderou também Chaves.

 

Mercado concorrido

“As margens de lucro despencaram e a luta é por centavos. No Sul e Sudeste, a crise se faz mais presente que na região Nordeste, em termos gerais. Não negligenciem jamais a gestão profissionalizada de seus laboratórios, disse Humberto Façanha da Costa Filho, outro palestrante do Congresso que também abordou o tema da gestão profissional. “A gestão de laboratórios é muito complexa. O principal problema é a competitividade baixa e o risco de solvência alto”, completou, lembrando que poucos laboratórios avaliam seus concorrentes, medem seus indicadores de forma sistematizada e tomam ações preventivas. Ele recomenda aos gestores de laboratórios: fazer o maior número de possível de exames, ter o maior tíquete-médio possível (valor médio dos exames), eficiência produtiva (menores custos de produção) e produtividade dos custos fixos (menores custos fixos).

Entre os desafios enfrentados pelos laboratórios, está o excesso de capacidade instalada frente à demanda, com preços impostos pelos clientes e crescentes requisitos de qualidade exigidos pelos órgãos de fiscalização, além de ações judiciais mais frequentes. “Estamos vendo uma concorrência predatória”, disse Costa Filho. Ele também destacou a importância de medir a rentabilidade do negócio, a margem de contribuição de exames e máquinas, e as tabelas de convênios, que produzem resultados diferentes conforme o mix de demanda. Hoje, o atendimento particular não chega a 5% do volume de exames realizados nos laboratórios, segundo o Sebrae; a precificação passa ainda por questões de repasse e negociação com planos de saúde.

No futuro, o cenário do mercado de laboratórios aponta para a tecnologia integrando diversas soluções em saúde; a gestão profissionalizada, a produtividade e o ponto de equilíbrio do negócio são questões básicas para garantir a competitividade. Como parte da programação voltada a negócios, o Congresso também aborda temas de comunicação e empreendedorismo, governança corporativa, gestão de pessoas, gestão estratégica de processos, a experiência do paciente no laboratório, inteligência emocional para ambientes de alta performance, liderança de equipes, indicadores de desempenho e inovação.