O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença metabólica que se caracteriza pela falha na regulação da glicose no sangue, que é o açúcar resultante da quebra de carboidratos. Após a ingestão de carboidratos, as enzimas amilases são responsáveis por degradá-los em moléculas de glicose, que são então absorvidas pela corrente sanguínea.

O Diabetes Mellitus tipo 1 é uma condição autoimune em que o sistema imunológico ataca e destrói cronicamente as células beta do pâncreas. Essas células são responsáveis pela produção de insulina, um hormônio essencial para que a glicose entre nas células e seja utilizada como fonte de energia. A ausência de insulina impede a captação de glicose pelas células.

Já o Diabetes Mellitus tipo 2, que costuma estar associado a maus hábitos de vida, ocorre quando o corpo desenvolve resistência à insulina produzida pelo pâncreas. Com o tempo, essa resistência pode levar à diminuição da produção endógena de insulina, tornando o paciente dependente de doses externas do hormônio.

Em ambos os casos, o excesso de glicose no sangue, conhecido como hiperglicemia, pode causar complicações crônicas graves, como retinopatia (danos à retina), neuropatia (danos aos nervos), pé diabético e doenças cardiovasculares.¹

Diagnóstico do Diabetes Mellitus por meio da dosagem de HbA1c

Por muito tempo, a dosagem de glicose foi o principal método para diagnosticar o diabetes. No entanto, sua eficácia foi superada pela Hemoglobina Glicada (HbA1c) após a publicação de dois estudos clínicos importantes: o Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) de 1993 e o United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS) de 1998. Esses estudos, que investigaram o impacto do controle glicêmico nas complicações crônicas do diabetes, serviram de base para a criação do National Glycohemoglobin Standardization Program (NGSP), que padronizou os valores de referência da dosagem de HbA1c. Atualmente, o valor de 7% é considerado o limite superior para o diagnóstico.²

A HbA1c é uma hemoglobina (proteína presente nas hemácias) que sofreu um processo de glicação, ou seja, se ligou a uma molécula de glicose. Ela é encontrada em altas concentrações em indivíduos com diabetes e se tornou o padrão para o diagnóstico devido ao seu longo tempo de meia-vida.

Enquanto a glicose é metabolizada em poucas horas após uma refeição, a HbA1c permanece na corrente sanguínea por até 120 dias, sendo eliminada apenas no baço, durante a hemólise das hemácias. Por isso, a dosagem de HbA1c não requer jejum ou qualquer preparação prévia à coleta de sangue.

Determinação quantitativa de Hemoglobina A1c (HbA1c) por Imunoturbidimetria

A metodologia de imunoturbidimetria utiliza a turvação para medir a concentração de HbA1c na amostra. Primeiramente, a hemoglobina glicada se liga a uma partícula de látex presente no reagente. Em seguida, a adição de um segundo reagente, contendo um anticorpo monoclonal (anti-HbA1c), forma um complexo que promove a aglutinação.

A intensidade da turvação gerada é proporcional à concentração de HbA1c na amostra e pode ser medida por meio de absorbância. O resultado final é obtido por meio de uma curva de calibração determinada pelo analisador bioquímico.

A Labtest oferece o reagente HbA1c WH Turbiquest, que utiliza este método e é facilmente aplicável a analisadores automáticos. O método é certificado pelo NGSP e é rastreável ao método de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC), que foi utilizado no estudo DCCT.³

Determinação quantitativa de Hemoglobina A1c (HbA1c) por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC)

O método de HPLC é considerado o padrão-ouro para a dosagem de HbA1c. Primeiramente, a amostra de sangue total é tratada com um hemolisante (reagente H) para liberar a hemoglobina dos eritrócitos. Em seguida, a amostra diluída passa por uma coluna cromatográfica preenchida com um polímero hidrofílico. A eluição das diferentes frações de hemoglobina é realizada utilizando-se quatro soluções-tampão com concentrações distintas.

O sistema de reagentes especializados para HPLC inclui soluções com funções específicas:

  • O primeiro reagente equilibra a coluna, criando o ambiente ideal para a separação das frações de hemoglobina e garantindo estabilidade e reprodutibilidade.
  • O segundo reagente, com fórmula otimizada, é responsável pela eluição das frações glicadas, como a HbA1c, por meio de um controle preciso de pH e força iônica.
  • O sistema também é composto por reagentes de limpeza e regeneração, que preparam a coluna para o próximo ciclo, prevenindo contaminações cruzadas e prolongando sua vida útil.

Durante o processo de troca iônica, a fração de hemoglobina não-glicada (não-HbA1c), que possui carga positiva, interage com a coluna. Já a fração de HbA1c, que tem carga neutra, passa mais rapidamente e é arrastada pelo gradiente da solução-tampão. Por ter um tempo de retenção menor, a HbA1c é uma das primeiras frações a serem eluídas, e seu pico aparece logo no início do gráfico gerado pelo equipamento.

A Labtest disponibiliza o sistema Vercentra HB, que utiliza o princípio de HPLC para a medição da HbA1c.

Referências:

  1. FERREIRA, L. T.; SAVIOLLI, H. I.; VALENTI, V. E.; ABREU, L. C. Diabetes melito: hiperglicemia crônica e suas complicações. Arquivos Brasileiros de Ciências da Saúde, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 182-8, 2011.
  2. Netto, A. P. et al. Atualização sobre hemoglobina glicada (HbA1C) para avaliação do controle glicêmico e para o diagnóstico do diabetes: aspectos clínicos e laboratoriais, J Bras Patol Med Lab, v. 45, n. 1, p. 31-48, 2009.
  3. Diabetes Control and Complications Trial Research Group. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and progression of long-term complications in insulin-dependent diabetes mellitus. N Engl J Med. 1993;329(14):977-86.