Marcadores precoces de doença renal em cães e gatos
31 jan 2020
O último estudo do Instituto Pet Brasil aponta que a população de animais de estimação no país era de 139,3 milhões em 2018. Cães e gatos representam 54,2 milhões e 23,9 milhões, respectivamente. Assim como o ser humano, os pets também estão sujeitos a doenças, como a Insuficiência Renal Aguda (IRA).
A IRA é uma doença comum nas espécies felinas e caninas e está relacionada com a perda da função renal e redução na taxa de filtração glomerular, o que compromete a saúde dos animais.
Neste artigo, você entenderá as fases, sintomas, causas e marcadores para auxiliar no diagnóstico de cães e gatos com Insuficiência Renal Aguda. Acompanhe os próximos tópicos para saber mais.
Entenda as três fases da IRA
A IRA é composta por três fases: instalação, manutenção e recuperação. Na instalação, os néfrons, que são as unidades funcionais dos rins, estão individualmente danificados, mas a função renal permanece adequada. “O grande desafio para os veterinários é diagnosticar a doença na primeira fase, de forma a evitar a sua evolução para a próxima etapa”, de acordo com a médica veterinária Vanessa Stuart.
A próxima fase é a de manutenção, na qual ocorre a perda da função renal em decorrência da redução da taxa de filtração glomerular (TFG). Nesta fase, há a elevação dos níveis de compostos nitrogenados no sangue, como ureia e creatinina, que denominamos azotemia. O aparecimento das manifestações clínicas (uremia) acontece quando a concentração de ureia no sangue ultrapassa mais de 150 mg/dL. Os animais podem apresentar sinais gastrointestinais e neurológicos, como desidratação, vômito, diarreia, convulsões, coma, perda de peso, prostração, úlceras orais, hálito forte (urêmico), entre outros.
“Na fase de manutenção, é possível agir e salvar vidas, porém a terapia contribui pouco para diminuir a gravidade das lesões já instaladas nos rins, melhorar a função renal e acelerar a recuperação. É muito importante que façamos o diagnóstico precoce, de preferência na fase de instalação, a fim de evitar que a doença passe para a etapa de manutenção”, reforça a veterinária.
Na última fase, a de recuperação, as lesões renais são reparadas e a função apresenta melhoras. Geralmente, há a perda irreversível de diversos néfrons. Entretanto, os néfrons remanescentes que não foram afetados se hipertrofiam e conseguem, dessa forma, compensar a função dos demais. “Processo que chamamos de hipertrofia funcional e que consegue recuperar a função adequada dos rins”, explica Vanessa.
Causas pré-renais, renais e pós-renais da Insuficiência Renal Aguda
As causas que levam a IRA podem ser pré-renais, renais e pós-renais. Nas pré-renais, podemos citar a hipotensão e hipovolemia causadas por hemorragia, devido a um trauma ou desidratação. Nas renais, temos o exemplo das hemoparasitoses transmitidas pela picada de carrapatos, muito comuns nessa época de verão, como a babesiose e erliquiose.
“Os rins também são muito propícios a lesões por agentes nefrotóxicos, pois recebem 20% de todo o sangue do débito cardíaco. Comparado a outros órgãos, ele está mais suscetível a lesões por isquemia e tóxicos”, explica a veterinária.
Entre as causas pós-renais frequentes, temos a obstrução uretral, principalmente nos felinos machos, devido a cálculos.
Conheça alguns marcadores tradicionais da IRA
Quando algum animal está com suspeita de insuficiência renal, são realizados exames de sangue e urina. No exame de sangue, é solicitada a dosagem de ureia e creatinina. Quando os rins não conseguem filtrar esses metabólitos, eles aumentam na corrente sanguínea. A dosagem desses componentes é comumente requerida, porém há um aumento dos mesmos no sangue apenas quando aproximadamente 70% dos rins estão acometidos, caracterizando um diagnóstico tardio de insuficiência renal.
Devido à função renal prejudicada, outros metabólitos tóxicos também podem estar em altos níveis no sangue, como o potássio, o que pode causar arritmia grave e frequência cardíaca reduzida (bradicardia). Há a possibilidade de o nível de sódio também estar aumentado, o que chamamos de hipernatremia, causando edemas, complicações neurológicas e musculares.
O exame de urina também auxilia o médico veterinário na avaliação da IRA., podendo haver um aumento da proteína na urina, denominada proteinúria. A albumina, por exemplo, possui um grande peso molecular e só ultrapassa o glomérulo quando há alguma lesão renal. “Ela vai aparecer na urina antes do aumento da ureia e creatinina no sangue, portanto, proporciona um diagnóstico mais precoce da IRA”, explica a veterinária.
A relação proteína/creatinina urinária pode ser solicitada com o objetivo de obter, aproximadamente, a magnitude de eliminação de proteína pela urina, detectando a gravidade das lesões renais, resposta ao tratamento e progressão da doença. É obtida dividindo-se a concentração de proteína pela creatinina numa amostra de urina.
A presença de glicose na urina é denominada glicosúria. “Quando a glicose está normal no sangue, mas presente na urina, pode haver alguma lesão nos rins.”, reforça a veterinária.
Cães e gatos com IRA não conseguem concentrar a urina. Essa reação é chamada de isostenúria e ocorre quando a densidade da urina está igual ou semelhante à densidade do filtrado glomerular. “Quando os rins estão com a função prejudicada, o animal também terá uma diminuição na produção de urina, o que é chamado de oligúria”, explica Vanessa.
Durante o tratamento, o animal pode ser sondado para que a quantidade de produção de urina seja mensurada. A produção normal é de 2 mL/kg/h. Se tiver menor, é sinal de oligúria, o que pode ser indicativo de insuficiência renal.
A importância do diagnóstico precoce da IRA e a solução Labtest
A enzima gama-glutamil transferase (Gama GT) é associada à membrana celular e está presente nas células epiteliais biliares, nas células tubulares renais, nos túbulos contorcidos proximais e na alça de Henle dos néfrons. Sua função está relacionada ao transporte de aminoácidos e manutenção da reserva deles nas células.
Quando as células dos rins sofrem alguma lesão, a Gama GT pode ser detectada na urina, indicando vazamento tubular renal ou de alguma necrose. “Alguns trabalhos já demonstraram que a Gama GT se manifesta antes do aparecimento da proteína e glicose na urina, sendo, portanto, um diagnóstico mais precoce”, explica a veterinária.
Para determinação da Gama GT em amostras de animais, a Labtest disponibiliza em seu portfólio o produto Gama GT Liquiform VET Ref. 1058, utilizado na determinação quantitativa da enzima em amostras de soro, plasma (EDTA) e urina, sendo esta última um diferencial no mercado. “O sistema emprega o método de Szasz modificado em modo cinético e pode ser birreagente ou monorreagente, com estabilidade de 21 dias entre 2-8 ºC para o reagente de trabalho”, explica Bárbara de Morais, especialista de produtos da Labtest.
O produto apresenta linearidade de até 700 U/L, 100 vezes maior que o valor superior de referência para caninos e felinos e 25 vezes maior que o valor superior de referência para equinos, o que implica redução da necessidade de diluição e repetição de amostras. Além disso, o produto apresenta sensibilidade metodológica de 2,48 U/L (limite de detecção).
“Para determinação de Gama GT urinário, é necessário centrifugar a amostra a 3500 rpm, por 15 minutos, antes da sua utilização no ensaio. Deve-se pipetar apenas o sobrenadante e proceder o teste conforme indicado. Para a correção da Gama GT, de acordo com o fluxo de urina, é necessário determinar a densidade urinária da amostra por meio de refratômetro e utilizar a equação indicada nas instruções de uso do produto”, complementa Bárbara.
Esse produto pode ser utilizado em sistemas semiautomáticos e automáticos. Para calibração do sistema, recomendamos o produto Calibra VET Ref. 1015, e para o controle de qualidade, o Qualitrol 1 VET Ref. 1014.
“É importante fazer o diagnóstico precoce para evitarmos a progressão da IRA. Se monitorarmos o animal e detectarmos a doença na fase inicial (de instalação), conseguimos muitas vezes evitar problemas maiores”, finaliza a veterinária Vanessa Stuart.
Para conhecer em detalhes as informações técnico-científicas sobre a Gama GT e a sua importância no diagnóstico precoce da IRA, leia o INFOVET Gama GT urinário: marcador precoce de insuficiência renal aguda em cães e gatos.
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