Danilo Feliciano de Moraes, filho do ex-lateral direito e capitão da Seleção Brasileira Cafu, sofreu um infarto aos 30 anos de idade, enquanto jogava bola com os familiares na sua residência em São Paulo, em setembro de 2019. Outro episódio triste no mesmo ano foi o de Tales Costa, modelo de 25 anos, que teve um mal súbito enquanto desfilava na passarela da 47ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW).   

Ambos os casos chamam a atenção por um motivo em comum: a idade precoce dos garotos. Segundo o Ministério da Saúde, desde 2013 houve no Brasil um aumento de 13% no número de infarto entre adultos com até 30 anos de idade. 

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) aponta as doenças cardiovasculares, afecções do coração e da circulação como principais causas de morte no Brasil, sendo responsáveis por mais de 30% dos óbitos registrados. A cada um minuto e meio, uma pessoa morre em decorrência de problemas cardiovasculares. 

Neste artigo, você entenderá do que se trata, quais os motivos, sintomas e, por fim, a importância dos biomarcadores para o diagnóstico do infarto agudo do miocárdio.   

O que é um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)?

O miocárdio é o músculo do coração responsável pelo processo de contração e relaxamento e auxilia o processo de bombeamento do sangue para o nosso corpo.

O infarto agudo do miocárdio ocorre quando as células do músculo morrem devido à falta de fluxo sanguíneo em decorrência da obstrução de algumas artérias que alimentam o miocárdio.

Como a artéria está obstruída, o sangue não consegue chegar até o músculo e pode ocorrer o IAM. Os sintomas nos jovens são mais proeminentes e diferentes daqueles apresentados pela população mais velha, como dores no peito, com ou sem irradiação para os membros superiores, suor frio, falta de ar ou náusea.

As causas que levam os jovens a desenvolver doenças cardíacas estão vinculadas com o sedentarismo, estresse, diabetes, tabagismo, entre outras. Por isso, a importância de ter uma alimentação saudável e praticar atividades físicas.

Entenda quais são os biomarcadores para o diagnóstico do infarto agudo do miocárdio

Os biomarcadores cardíacos são macromoléculas, proteínas ou enzimas, que auxiliam no diagnóstico de diversas doenças cardíacas, incluindo o infarto agudo do miocárdio. Saiba mais sobre alguns destes biomarcadores e qual a relevância no diagnóstico:

A enzima creatina quinase (CK) e sua fração MB (CK-MB)

A enzima creatina quinase e sua fração MB (CK e CK-MB) são biomarcadores estabelecidos dentro da comunidade médica para o diagnóstico do IAM. A CK possui duas subunidades B e M (Brain e Muscle, respectivamente) e é responsável por regular a produção e o uso dos íons fosfato (PO42-) nos tecidos que se contraem.

A CK-MB é denominada miocárdica e os ensaios podem dosar sua atividade ou sua concentração. O teste que determina a concentração é chamado de CK-MB massa.

Esses testes são sensíveis e confiáveis. A atividade da CK-MB aumenta entre 4 e 6 horas, após a lesão do músculo cardíaco, com um pico em torno de 18 horas depois do infarto. Os níveis normais serão restabelecidos em 48 horas. Portanto, trata-se de um biomarcador de “meia vida curta”, explica a especialista de produtos da Labtest, Bárbara de Morais. 

A Labtest já abordou a importância desses biomarcadores no artigo Infarto Agudo do Miocárdio: como diagnosticá-lo.

Troponinas (TnI, TnT e TnC)

As troponinas são complexos de proteínas que auxiliam o processo de regulação de interação entre actina e miosina, que participam do processo de contração muscular. 

As troponinas têm três subunidades: Troponina I (TnI), Troponina T (TnT) e Troponina C (TnC) e são classificadas desta forma, dependendo ao que estão ligadas. Normalmente, estão ausentes na corrente sanguínea, sendo encontradas apenas no tecido cardíaco. Quando ocorre a lesão, as troponinas são liberadas para a corrente sanguínea e podem ser detectadas.

As Troponinas I e T têm relevância para o diagnóstico do infarto agudo do miocárdio, sendo consideradas biomarcadores cardíacos, uma vez que possuem sequência de aminoácidos específicos para o músculo cardíaco. 

A TnI e a TnT podem ser detectadas em cerca de 2 a 4 horas após o início da lesão, com pico em torno de 12 horas e podem permanecer elevadas por dias. São “padrão ouro” e consideradas como marcadores tardios.

“Os produtos que dosam ambas podem ser qualitativos ou quantitativos. Entre os quantitativos, tem-se os que são considerados ultrassensíveis e capazes de detectar quantidades pequenas desses dois analíticos na amostra”, complementa Bárbara.

Mioglobina

O terceiro biomarcador é a mioglobina, uma metaloproteína com núcleo porfirínico de ferro, semelhante à hemoglobina, cuja função é realizar o transporte intracelular de oxigênio.

É uma proteína presente no citoplasma, que está localizado entre o núcleo e a membrana celular, responsável pela captura do oxigênio e por levá-lo às mitocôndrias, auxiliando no processo de respiração celular.

A concentração da mioglobina se eleva entre 1 e 2 horas após a isquemia, o pico ocorre entre 6 e 9 horas e as concentrações se normalizam entre 12 e 24 horas. “Portanto, é considerado um marcador precoce”, destaca Bárbara.

Outros biomarcadores

Além do biomarcadores mencionados, outros também são relevantes para o diagnóstico do IAM, como o hormônio BNP e o D-dímero. O hormônio peptídeo naurético cerebral (BNP) é um excelente marcador de estresse mecânico e sua dosagem auxilia na avaliação da disfunção ventricular sistólica esquerda. Já o D-dímero é um fragmento de proteína resultante do processo de coagulação e níveis elevados deste analito estão associados ao aumento de risco de IAM. 

Recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) recomenda que o diagnóstico não seja feito com apenas um marcador, mas com pelo menos dois. Um que seja precoce (mioglobina e CK-MB) e um tardio (CK-MB e troponinas).

“Os biomarcadores cardíacos são importantes para auxiliar no diagnóstico do infarto agudo do miocárdio. A escolha do biomarcador mais adequado deve ser considerada de acordo com o tempo de aparecimento ou elevação da sua atividade ou concentração na corrente sanguínea”, afirma Bárbara.

“É importante realizar o diagnóstico de maneira adequada. O resultado precoce possibilita que as medidas médicas sejam efetivas, evitando sequelas graves que possam comprometer a qualidade de vida do paciente e a evolução do quadro para o óbito”, finaliza Bárbara.