Especialistas discutiram o futuro do setor no 52º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. 

Inovação é um tema recorrente em empresas que desejam prosperar no mercado, incluindo os laboratórios clínicos, que procuram se reinventar enxergando as demandas e tendências do futuro. Para que possam ser inovadores, os laboratórios precisam criar ambientes acolhedores para que seus profissionais discutam ideias, reduzir hierarquias e burocracias, promover a colaboração e a escuta de opiniões diversas. A união de vários esforços pode criar algo disruptivo. Abaixo, algumas ideias apresentadas pelo palestrante Carlos Ballarati, no 52º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, realizado neste ano em Florianópolis.

Point of care e sensores devem ser vistos como tendências e não ameaças, exigindo a remodelagem do setor. O laboratório tem que entender seu papel neste novo cenário.  As novas tecnologias e o crescimento exponencial de informações e conhecimento impactam não somente a área de saúde. Para que se tenha ideia dos avanços, basta lembrar que, no ano 2000, os computadores tinham a capacidade de processamento do cérebro de um inseto; para 2023, espera-se uma capacidade de processamento igual ao do cérebro humano. Em 2050, um computador poderá ter a capacidade de processamento igual ao cérebro de toda a população mundial. A velocidade tecnológica é cada vez mais impactante: o carro autônomo já é realidade!

Veremos inovações consolidadas e cada vez maiores na área de saúde. Em 2020, o mercado de telemedicina deve dobrar. Assistiremos ao surgimento de novas tecnologias, novos métodos, à sofisticação de complexos de hotelaria hospitalar e equipamentos. É preciso enxergar as oportunidades de mercado que surgem a partir do envelhecimento da população. E também contribuir para a melhor relação entre atores dos sistemas de saúde. Essas mudanças exigem novas soluções, principalmente, na área de saúde digital, com novos recursos em inteligência artificial, mobilidade, genética, novos equipamentos e o maior engajamento do paciente.

Para os especialistas, o Brasil é um país peculiar, com um excelente mercado. Temos um índice de inovação muito baixo, é verdade, existe distorção entre o que a academia produz e o que o mercado demanda, e falta crédito para acesso à tecnologia. Países como Estados Unidos, Israel, China e os da União Europeia investem em ideias e os investidores aguardam até que o negócio dê resultados palpáveis. Aqui, a cobrança por resultados é imediata! Até hoje, empresas inovadoras como Uber e AirBNB não são lucrativas, embora estejam valendo fortunas. É preciso mudar a mentalidade e dar tempo para a maturação dos negócios.

Em termos de investimento em pessoas, estamos muito atrás em educação. A China investiu bastante no setor e hoje detém muitas tecnologias de ponta. Temos um ambiente de inovação difícil no Brasil, mas nossos desafios são superáveis. O mercado de saúde nacional, se comparado a outros mercados mundiais, tem alto potencial de geração de riqueza. Temos uma enorme população e que está envelhecendo, demandando o gerenciamento de doenças crônicas. A prevenção é o futuro da medicina, e com ela veremos novas formas de remuneração dos sistemas de saúde, plataformas cognitivas que aprendem com os usuários, acessibilidade, gestão integrada e prontuário eletrônico, além de drones e sensores incrementando as soluções em health tech.

Novas ideias para os laboratórios

O Point of Care veio para ficar. Do ponto de vista do paciente, permite respostas a testes em poucos minutos e a conduta rápida para sistemas de emergência ou atendimento primário, otimizando os gastos em saúde. O teste com dengue foi positivo. Além disso, também permite o acesso a exames de forma diferente, colocando outros pontos à disposição (como farmácias e clínicas). Mas o Point of Care deve ser cada vez mais conectado ao laboratório, que possui informação privilegiada do paciente e do sistema de saúde. No futuro, vamos estudar a evolução de doenças no indivíduo, e os dados de soroteca, juntamente com recursos de inteligência artificial, vão contribuir para a maior longevidade.

Sensores vão evoluir de forma rápida, implantados ou não no corpo. O laboratório terá maior capacidade de automação e poderá realizar testes genéticos: cada vez mais, é preciso entender a genética para atuar de forma a evitar doenças. Temos capacidade de prolongar a vida e devemos trabalhar nisso, para que o indivíduo viva melhor e mais. Também veremos o transporte de vacinas e medicamentos via drone. E a maior empregabilidade, porém, baseada no maior uso de dados. Vamos aplicá-los na medicina preventiva, no monitoramento e gerenciamento de doenças crônicas, gerando impacto social.

Pela primeira vez na história, temos a oportunidade de trabalhar de forma estruturada, focados no crescimento e na evolução do ser humano. Um novo aparelho da Apple está fazendo eletrocardiograma e representa um benefício para pacientes que precisam desses sensores. A tecnologia empodera o paciente: novos aplicativos para diagnóstico de doenças, testes laboratoriais para o gerenciamento geral da saúde e acesso a testes genéticos com custo baixo. Isso vai acontecer de forma escalável. O papel da nanotecnologia também é maior: drogas inteligentes, nanorrobôs com atuação específica e big data vão gerar grande impacto na saúde.

Grandes players como a Amazon estão contribuindo para que a medicina personalizada chegue ao indivíduo de maneira mais barata. Veremos um mundo mais colaborativo, e uma nova geração lutar para se integrar, atuar em rede, usar e reciclar. A nova geração vai chegar aos 100 anos não aos trancos e barrancos, mas com qualidade de vida.